Querida D,
vou-te falar no teu parto.
Às oito horas o G. telefonou. Sabia que era mais hora menos hora, o teu corpo já tinha dado os sinais... fiquei feliz, porque era um dia de celebração e tu me tinhas convidado.
Pelo caminho, depois de ter comprado os ingredientes para o Crumble de Maçã, fui todo o caminho a cantar em voz alta. Nunca canto.
Quando cheguei a tua casa o ambiente de tranquilidade era tal como sempre soube seria. O teu rosto calmo quando abriste a porta de casa.
A tua mãe chegava, preparávamos o almoço... Riamos, brincávamos. As contracções teimaram e pararam das de 10 em 10 minutos que tinhas de manhã cedo quando começou a cair o rolhão, para zero.
Ao almoço regressaram... Pararam de novo. Pensei talvez fosse porque todos os convidados para a festa ainda não estavam presentes. Faltava a M e a T. Pensei que, talvez o R. não queira nascer antes dos convidados chegarem.
Depois do almoço quisemos ir caminhar à beira mar, e não pudemos, por causa da chuva. Ainda assim, apesar do temporal, fomos ver o mar... estava grandioso, como a água no teu ventre... cheio de força.
Depois já passara tempo. Fomos buscar a M. Ainda fomos comprar champanhe e voltamos para tua casa.
Dançamos. Saltamos rimos. O G. olhava para nós com cara de “estas mulheres enlouqueceram”, mas estava também a divertir-se.
Já se fazia tarde quando chegou a T. Eu e a M. enchemos o colchão com a ajuda do G. Era evidente que íamos passar muito tempo em frente á lareira, e assim, encheríamos o colchão para depois dormirmos á vez.
Eu estava a ficar cansada e tive medo da noite, de não ter força quando precisasses e fui descansar. O bom de teres chamado as tuas amigas era que eu sabia que estavas em boas mãos. As contracções estavam agora a 8 minutos de distância, e eu sabia que faltava tempo. Na cozinha falávamos coisas de mulheres.
Quando me recostei fiquei um pouco atenta mais o cansaço venceu e adormeci. Acordei estavas com contracções de 3 em 3 minutos e eu soube que o trabalho de parto tinha avançado. Não há regras. Estávamos sempre a dizer que todas as mulheres são diferentes, que não há regras, e até tu, não pudeste chamar a parteira quando ela disse, contracções de 5 em 5 minutos, com duração de um minuto, durante duas horas.... não tiveste isso.
Chamei a parteira. A voz dela tranquila, disse “i am coming”. Disse que podias talvez entrar na banheira para um banho.
Fomos para cima, ficaste sentada na sanita algum tempo. Mandaste colocar as velas e retirar as coisas que não querias ali. Pensei que estavas a por o local bonito retirando todas as coisas desnecessárias. Depois disseste: se quiserem sentem-se aqui á volta. E foi como se nos permitisses assistir á tua transformação mágica duma forma como nunca vi nenhuma mulher fazer. Seguravas-te aà nossa mão e nunca apertavas. seguravas nela, só mantendo uma espécie de contacto exterior, mas eu pasmava-me com o facto de nunca apertares.
Quando não nos querias demasiado perto, afastavas-nos com as mãos. e nós fugíamos.
Quando querias algo pedias, acenando com a mão, e nós íamos adivinhando o que querias. Água, afastar alguma coisa...
os teus gemidos não se assemelhavam a gemidos mas sim a um canto... Tu não sabes, não ouviste do lado de fora, mas era de tal modo mágico que me levaste a cantar como tu e todas nós cantamos a tua dor....
o teu braço no ar, e a mão pendida a balançar.
O toque ritmado que fazias com ela contra a perna ou contra os azulejos da casa de banho.
Magia.
Não foram inventadas as palavras para descrever, não o sei fazer.
O teu corpo na água... o teu rosto ausente.
todas nós admiravamos a tua tranquilidade era tão reconfortante que se sentia a oxitocina fechada entre as paredes da casa de banho.
Depois a parteira chegou e depois de preparar tudo no quarto, as coisas dela, sentou-se do lado de fora "da festa" á espera, sempre respeitando o teu espaço e os teus convidados... de vez em quando entrando para ver como estavas e o teu bebé... os batimentos fortes...
As horas passavam... o silêncio, o teu canto... a tranquilidade, sempre.
Nada fazia crer que a tua historia tivesse outro fim senão o bebé nascer ali tranquilo. Estavas tão exausta, que entre as contracções onde puxavas o teu filho para fora, adormecias e o G tinha de te lembrar para respirares.
Os batimentos do bebé foram ficando menos fortes... E a decisão foi tomada.
O bebé nasceu saudável com a ajuda de ventosa.
Foste forte. Tão forte que todas aquelas horas, foi o teu poder que tranquilizou o mundo onde estávamos. Tiveste um dia lindo, tivemos um dia lindo. Dançamos, rimos, cozinhamos e comemos, quando a maior parte das mulheres em trabalho de parto ficam deitadas como se doentes, numa cama de hospital.
Sei que não tiveste a cereja em cima do bolo, dele ter nascido no lugar que escolheste.
Mas, tambem sei que escolheste primeiro ele.
E ei-lo.
Lindo.
Com a sorte de ter uma mãe que tomou as suas decisões e um pai que esteve ali tranquilo e forte ao Vosso lado.
E nós? As pessoas que escolheste para estarem contigo? Podem sentar-se aqui á volta dizias. “Podem deliciar-se com o meu nascimento como mãe” pensei eu...
Sei que ser doula é apoiar a mãe nas suas decisões, e é um trabalho, embora ás vezes seja um trabalho em que temos consciência em que a única coisa que é preciso é sentar e ver. E é difícil. Sei que a maior parte das mães ficam eternamente gratas porque alguém as acompanhou. Mas ser escolhida como doula ou amiga para “ver” essa transformação, é não só uma experiencia única como uma honra, e, nós doulas, ficamos também eternamente gratas por ser-nos permitido ver, aprender absorver esse poder de mulher que pare.
O teu canto jamais abandonará a pessoa que sou!
Dear D,
i will tell you about your labor. At eight a.m. G. called. I knew it was just about to happen, your body had given the signs.... and i was happy, because it was a day of celebration and i was invited. on my way over, and after i bought the ingredients for the apple crumble, i went the whole time singing out loud. I never sing. When i got to your home, everything was quiet as i knew it would be. Your quiet face when you opened the front door. Your mother arrived, we prepared lunch... we laughed, played.
i will tell you about your labor. At eight a.m. G. called. I knew it was just about to happen, your body had given the signs.... and i was happy, because it was a day of celebration and i was invited. on my way over, and after i bought the ingredients for the apple crumble, i went the whole time singing out loud. I never sing. When i got to your home, everything was quiet as i knew it would be. Your quiet face when you opened the front door. Your mother arrived, we prepared lunch... we laughed, played.
Your contractions came and stopped from 10 to 10 minutos in thw morning when your mucous plug began coming out, to zero. At lunch they returned... then they stopped again.
I thought maybe because not all the guests had arrived. M and T. were not there yet. I thought maybe R. didn't want to be born if someone was missing.
After lunch we wanted to take a walk on th beach, but we couldn't because it was rainning, so we just went to see the sea besides the storm. it was wild like the fluids in your belly... full of streght.
After some time, we went to get M. we sent to get a bottl of champagne and went back to the house. We danced. We jumped and laughed. G. looked at us like we were crazy, but he was having fun too...
It was late when T arrived. M and I were filling the bed with g's help. it was so clear that it would be a long night near the fireplace. We would sleep in turns. I was gtting tiered and was afraid i wasn't strong when you needed me so i rested. The good thing about you having chosen friends to be with, was that i knew you'd be in good hands. contractions were now 8 minutes appart and i knew there'd be a long night ahead. In the kitchen we spoke "women talk".
When i layed down i tried to be alert, but i was tiered, and fell asleepi. I woke when you were having contractions every three minutes and i knew labor had taken a leap. No rules. We were i called the midwife.. . her calm voice said “i am coming”. she said maybe D wanted to go in the tub.
We wnet upstairs. You sat on the toilet for a while. you told us to put out the candles and take away some things you didn't want there. I thought you were making the place look nice. Then you said: if you want you may sit around here. it was like you allowed us to watch your magical change in a way i have never seen a woman do before. You would hold our hand and never squeak it. Just holding it, like maintaining some kind contact with the exterior world; i was amazed how you never squeazed it.
When you didn't want us too close, you would wave us away. when you wnated something you would point it out so we could guess through the wavins of your hand. Water, move something... your groans did not sound like groans, but like a song... You don't know, you didn't hear it from the outside, but it was so magincal that i started singing like you and all of us sang your pain....
Your arm in the air, and hand hanging down waving.
The rithym you made with it on your leg or on the wall tiles. Magic.
The words i need to describ it haven't been invented, i can't do it.
Your body in the water... your absent face. We were all admiring your qietness; tranquility, was so reassuring that i could feel the oxcitocyn locked in the bathroom walls.
Then the midwife came, prepared the room, her things, sat outside the aprty waiting, always respecting your space, your guests... once in a while whe'd check on you and the baby... heartbeat strong... long hours.. the silence, your song... quiteness always.
Nothing could lead us to think your baby wouldn't be born there, in your home, the place you chose.
you were so exausted you'd fall asleep in between the pshing and G kept waking you. babies heart wasn't so strong anymore and the decision was made
He was born healthy with a little help from the hospital ventosas).
You were strong. sostrong that all those long hours, your power kept the world we were in quiet. You had a beautiful day, we had a beautiful day. we danced and laughed and cookedand ate, when most women in labor just lye in bed like sick women in hospital beds.
i know you never got the cherry on the cake, of him being born the place you wanted.
I also know you decided : him first.And there you have him, beautiful lucky to have such a mother who made her own decisions and a father who never left your side.
As for us? the people you chose to be with you? you may sit around me, you said. “you may presence and delight with my birth as a mother", i thought...
I know that being a doula is supporting a mother in her decisions, it is work, although it is a work where sometimes all we can do is sit and watch and wait. and its hard. i know most women are so eternally garteful for the ones who were with them. But being chosen to be thereas a doula or a friend to "see" this change in a woman, is not only a unic experience but also and honor; and we doulas are too, eternally grateful for being allowed to watch and sit and learn and breath this power of a woman in labor.
Your song will never leave the person i am!
Your song will never leave the person i am!